Master Detective Archives: Rain Code é um jogo de aventura e crime-mistério, desenvolvido pela Too Kyo Games e co-desenvolvido e publicado pela Spike Chunsoft para a plataforma Nintendo Switch.

Este é um jogo repleto de mistérios, crime, fantasia e aventura. O seu ponto focal é a estória, contendo, no entanto, alguma ação mais leve. Todo o jogo é muito envolvente, surpreendente, com enredos secretos e mistérios entusiasmantes que nos prendem ao ecrã e fazem querer passar horas a jogar.
Yuma Kokohead, o personagem através do qual jogamos, é um membro de uma organização de detetives que tem por missão descobrir o mistério do distrito Kanai Ward. Yuma aparece pela primeira vez fechado numa arrecadação de uma estação de comboio e ao acordar apercebe-se que se encontra com amnésia. Para sua sorte, ou não, ele é acompanhado por Shinigami, o Deus da Morte.
Durante o desenrolar da estória Yuma vai resolvendo vários casos paralelos que à primeira vista pouco parecem ter a ver com o caso principal, mas que vamos compreendendo a sua conexão ao longo do tempo.
Em cada capítulo, num total de 6, temos uma fase inicial em que é estabelecido o tema do capítulo, o cenário e as personagens. Esta é uma fase mais focada em diálogo, mas que não podemos descurar pois irá igualmente fornecer pistas importantes.
De seguida começa a investigação. Nesta fase o jogador tem de ir recolhendo pistas através da examinação de provas, conversas com testemunhas, e ainda recorrendo aos Fortes. O Forte é um poder especial que se manifesta de maneiras diferentes em cada detetive, com por exemplo deteção de batimentos cardíacos ou até Fortes mais elaborados como voltar atrás no tempo até à primeira vez que se entrou em contacto com uma cena de crime e analisar provas que possam ter escapado inicialmente. O seu uso torna cada uma das investigações diferentes entre si e mais dinâmicas.

A fase final é o Mystery Labyrinth. Este labirinto é uma manifestação espiritual dos mistérios que irá permitir ajudar-nos a fazer senso de cada um dos casos e resolvê-los.  Estes labirintos colocam à prova o nosso entendimento sobre os casos através do uso das pistas que fomos coletando durante a investigação. Os labirintos são compostos por vários mini-jogos mas os seus elementos principais são o “Death Match” e o “Shinigami Puzzle”. No primeiro uma personagem relevante do capítulo irá tornar os detalhes do crime vagos e tentar confundir o jogador com mentiras e generalizações. O jogador tem então de se equipar com as razões certas que justifiquem ou desprovem as acusações lançadas.  O Shinigami Puzzle é semelhante ao jogo da forca, o jogador tem de adivinhar a palavra que responde à questão, estando ela relacionada com as conclusões que foram sendo retiradas ao longo do labirinto.
Estes momentos de ação durante o labirinto são muito importantes para balancear a carga pesada de estória e diálogos, tornando o jogo mais dinâmico e imersivo, permitindo uma jogabilidade mais ativa, enquanto a primeira fase é mais passiva. Apesar de o sucesso do labirinto estar dependente da nossa atenção durante as primeiras fases dos capítulos, antes de entrarmos é fornecido um sumário dos principais pontos relevantes para a resolução do mistério que permitem reavivar a memória. No entanto algumas das questões que aparecem durante o labirinto são muito ambíguas e podem ter várias respostas, mas só uma está correta. É ainda necessário algum domínio sobe a língua em que estamos a jogar para compreender os jogos de palavras que por vezes são feitos e conseguir responder prontamente às questões.
O jogo permite também explorar Kanai Ward de uma forma livre e envergar por missões paralelas que ajudam a ganhar pontos que podem ser trocados por habilidades que facilitam as expedições ao Mystery Labyrinth. Adicionalmente podem ser recolhidas oras brilhantes que desbloqueiam informações sobre as personagens, a sua maneira de pensar e detalhes que elas achem importantes sobre os mistérios.

Um problema que é necessário salientar são os loading screens demorados que enfrentamos frequentemente ao iniciar o jogo e ao carregar as cutscenes, algo que é um problema geral na plataforma Nintendo Switch. É ainda de salientar que caso nos seja necessário parar alguma cutscene a meio, ou abandonar o jogo durante a primeira fase em que estamos a conhecer o cenário do capítulo não é possível gravar o jogo. Portanto quando recomeçamos temos de ver extensos minutos de diálogo novamente o que se torna aborrecido. Felizmente há um botão que permite acelerar estas partes.
Fora estes pequenos contratempos, a escrita e toda a maneira como a estória se desenvolve é um dos grandes pontos fortes do jogo. Contando com várias cenas mais pesadas, sombrias e algumas até mesmo a rondar gore e explícito, são retratadas de uma forma séria e balanceadas com outras cenas mais leves, cómicas e até mesmo travessas num rácio que funciona na perfeição. O jogo apresenta um leque de personagens interessantes e diversas, com um incrível design. Estas estão num estilo mais animado em 3D e contrastam com os cenários de fundo mais realistas, tudo harmonizado numa paleta de cores que funciona magnificamente. O soundtrack também é bastante rico, auxiliando na imersão.
Em geral é um jogo extremamente bem conseguido que contém um forte elemento de estória que nos surpreende constantemente porque nada é exatamente como pensamos e por muita atenção que tenhamos prestado nas investigações há sempre qualquer coisinha a mais. Tendo iniciado este jogo sem nenhum conhecimento sobre o mesmo e consequentemente sem nenhuma espectativa, fui ainda assim bastante surpreendida pela positiva, não tendo penado que fosse gostar tanto. É um jogo que vale muito a pena para quem adora um bom mistério e de tentar desvendar tudo antes de a solução ser revelada. Não é necessária grande destreza pois é maioritariamente um jogo de raciocínio e poder de observação, tornando-se por isso acessível a jogadores com qualquer nível de habilidade. Sem dúvida um jogo que recomendarei a quem gostar de crimes e mistério para se sentirem um verdadeiro Sherlock Holmes a analisar todas as pistas.